sábado, 20 de fevereiro de 2010

Saudade

Eram mais ou menos quinze para as sete da noite.
Ele apeou do coletivo, em direção à sua casa, após um dia cansativo de trabalho.
Ia em silêncio. Caía uma garoa fina. Algo não estava certo com ele naquele início de noite.

Minutos antes, ouviu uma música que trouxe à sua mente, momentos vividos com aquela pessoa com quem tanto vivera momentos adoráveis! Mas que agora habitavam somente o fundo de suas lembranças e pensamentos.

Veio-lhe à mente aquela célebre frase, que tanto ouvira nos últimos meses: "Só se dá valor para o que se tem quando se perde." Triste realidade.

Caminhando pelo bairro, até chegar em sua residência, ia passando o olhar por sobre os lugares onde estivera com ela!

Os momentos onde segurava aquela mão suave, linda e delicada. Parecia sentir a textura de sua pele novamente! Hoje ele sabia que não mais teria acesso à tamanha graciosidade.

Restou somente a saudade. Tentou relutar durante muito tempo, mas sabia que no fundo no fundo, de nada adiantaria. Ela tinha decidido esquecê-lo. E uma mulher decidida não volta atrás da decisão.

Chega no apartamento. Parece que ele está maior naquele dia. Seria tudo culpa daquela música? Ou havia algo dentro dele que ainda o perturbava de real?!

Lá fora, a chuva começa a cair pesadamente. Aumentando ainda mais a sensação de se sentir indefeso. Para espantar um pouco a solidão, liga o rádio para ver se algo o agrada. Porém, nada.

"Por que não valorizei enquanto a tinha?!"

Sentou-se na poltrona, afundando o corpo na mesma.

Mais um dia se foi. As pessoas viveram. Trabalharam. Cresceram. Produziram. Ele também.

Mas com uma diferença: Ainda faltava algo. Alguém, na verdade.

E ele sabia que no dia seguinte, seria daquele jeito de novo. E depois. E depois. E depois...

De repente uma música conhecida toca em alguma emissora, onde o locutor, com uma voz de veludo, a anunciara de alguém para alguém.

"Quem me dera, ao menos uma vez, ter de volta todo o ouro que entreguei à quem conseguiu me convencer que era prova de amizade se alguém levasse embora até o que eu não tinha..."

Pensou durante uns cinco minutos naquele verso... "Se alguém levasse embra até o que eu não tinha..."

Concluiu que não chegaria à lugar algum naquela melancolia!

Pegou um livro, um dos muitos de sua vasta coleção, e começou a ler algo, à esmo, sem aparente interesse.

A noite seria longa.

Nada o agradava. Nada o fazia esquecê-la.

A não ser o fato de que sabia que deveria. Ela se mudara há muito de cidade. De estado, até!

Mas a maior distância que ele amargava não era a distância física.

Era a distância dos corações. Outrora tão pertinhos! Hoje, tão distantes.

Lá fora, a chuva continua. Cada vez mais pesada. O que parecia aumentar ainda mais a sua agonia. Nem o gato que tivera (e que fugira semanas antes) estava ali para lhe fazer companhia.

Em meio à esses pensamentos, adormeceu.

Para acordar no outro dia. Para mais um dia viver e se lembrar que na vida, tudo pássa. Só o amor permanece.

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