quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Grito da alma

Estava cansada.

Cansada e desesperada.

Não sabia mais o que fazer para chamar a atenção.


Não por simplesmente querer aparecer, mas porque precisava que alguém a enxergasse.
Sentia-se como aquele inseto que, em vão, tentava escapar pela janela, sem se dar conta de que a parece invisível tratava-se de um vidro. Intransponível.

Tentara, durante um tempo, entender o por quê de ter se tornado alguém sem importância para as pessoas com quem ela tanto se importava. Doía no fundo da alma não fazer diferença na vida de quem era tão cara pra ela.

Dentro dela, existia ainda aquela menina, feliz e meiga, que um dia existiu.

Mas estava escondida.


Doida pra se libertar. Ansiosa por se liberar.


Mas o triste, era que ninguém mais a via. E ela simplesmente não entendia.

Quando foi que aquilo começou?

Por que as coisas chegaram àquele ponto?


Deixou-se cair sobre as próprias pernas. Estava desistindo.

Seu olhar já não tinha aquele brilho.

Queria muito resgatá-lo.
E era muito provável que um dia o fizesse. Mas não ali. Não agora.


De longe, via as pessoas às quais entregou seu coração e seus segredos mais íntimos, na firme esperança de que todos os seus tesouros fossem bem guardados.

Mera ilusão.

Deixaram seu coração cair no chão.

Cacos espatifaram para todos os lados, em todas as direções. E ninguém teve a bondade de se abaixar, junto dela para cuidar do que restou.


Chovia.

Um vento frio entrava por alguma fresta. Um arrepio correu-lhe a espinha.
Pobre menina. Sem ninguém para ampará-la.
Nem forças encontrava para levantar dali para procurar fechar a janela por onde entrava a gelada brisa.

O grito de sua alma já não ecoava mais.

Lembrava, à essa altura, das histórias que sua avó lhe contava!

Sobre alguém que, em algum lugar, se importava com ela.

Achava tudo muito bonito!


Mas onde estaria então aquela pessoa, por ela tão esperada?


Começou a chorar baixinho.

Os soluços vieram seguida.


Já que gritar não adiantava, resolveu se render ao silêncio que só ela sabia e podia fazer.
Ouvia risos, ao longe.
Pessoas com suas histórias, vidas e afins.

Enquanto uma lágrima rolava solta, teimosa para encontrar o solo, ela imaginava o quão bom seria se tivesse tido a mesma sorte que elas.
Mas àquela altura, não tinha mais as certezas que um dia tivera.

Estava perdida em meio a esses pensamentos, quando viu, ao longe, alguém.

Alguém diferente. Não sabia bem o quê diferenciava aquele alguém.

Mas decididamente, não era mais um na multidão.


Aquele se tornaria único pra ela, um dia. Mas ainda demoraria muito. A jornada seria longa.

Mas nenhuma viagem começa, sem que se dê o primeiro passo.


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