quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A experiência da "Celebração do Abraço do Pai"

Lembro daquele final de semana, de 19 à 21 de novembro de 1999, no qual participamos de um retiro inesquecível na casa Kolbe, aqui em Caçapava, realizado e organizado pela secretaria Marcos, da época!

O Beto, do Cristo Vive, avisou a mim e à Vanessa que seria importante participarmos, pois seria um aprofundamento com um cara que vinha pregar de maneira bem jovem, para aqueles que já estavam dentro da igreja.

Tratava-se do Frater Dieickson,SCJ.

Frater, na ordem dos padres Dehonianos, corresponde aos seminaristas (corrijam-me se eu estiver enganado).

Eu nunca tinha ouvido falar daquele cara, mas topamos, uma vez que estávamos rezando, e pedindo à Deus uma direção para o nosso grupo de jovens, que tinha o nome de Juprobec, à época. Sigla de Juventude Procurando o Bem Cristão.

Muitos grupos, até hoje, que fazem parte da Pastoral da Juventude tem siglas como nomes.

Já caminhávamos em grupos de oração, da Renovação Carismática Católica, e sentíamos que aquele também deveria ser o caminho a trilhar.
Por isso a atenção tão especial do Humberto, mais conhecido como Beto.
Ele tinha passado mais ou menos a mesma coisa no grupo CAJU (Caminhando Juntos).

Aconteceu que fomos para o retiro. 
Eu, Vanessa Hungaro, Ricardo Alexandre (o Xande, de quem até hoje tenho a alegria de estar tão próximo) e o Douglas. Éramos nós os responsáveis pelo grupo naquela gestão.

Realmente, o cara arrepiava!
Falava muito bem!
Cansou a gente o dia inteiro!
Pregações longas, mas divertidas!

As animações não eram tão longas, pois, por se tratar de um retiro de aprofundamento, eram pregações para quem já era da "caminhada"!

Fomos sexta-feira a noite.
Sábado todo com muita atividade também.

O Dieickson sabia muito bem conduzir aquele monte de jovem, cansando sem cansar, se assim podemos dizer!

Aconteceu que, no sábado, após o jantar, ele anunciou que haveria uma pregação super importante, e que ele fazia questão de que todos os participantes estivessem na sala de palestras, pois julgava de grande importância o tema que seria ministrado: a sexualidade na vida do jovem.

Meus caros e minhas caras... Ele avisou que muitos ali se escandalizariam.
Mas ele não tava nem aí. Iria usar a linguagem do jovem, não seria nada diferente do que já havíamos escutado, e outra: as pessoas que vinham ao nosso grupo, vinham de ralidades onde era comum o uso dos termos.

Mas ele rasgou o verbo!
Falou tudo e mais um pouco.
Primeiro falava o nome científico, depois, o "coloquial"!

E foi uma pregação longa!
Começou por volta das 21:15, indo até mais ou menos 23:00.

A gente riu muito!

Claro... A hipocrisia tão comum nos grupos de hoje em dia já pairava no ar naquela época.
Muitos "puritanos" ficaram com dores nos ouvidos de tanto ouvirem palavrões.

Para esses, acho que se chegasse alguém do "mundo" pra conversar com os mesmos, deveriam indicar outros pra conversarem, pois não poderiam ouvir tamanhos disparates, os ouvidos santos. Mas enfim...

Palavras do Dieickson, que nunca mais esquecerei, por volta das 23:15:

"Gente, tivemos um dia produtivo, cansamos bastante... Por isso, vou dizer o seguinte: Teremos mais um momento aqui, bem rapidinho. Mas aqueles que quiserem se dirigir para os quartos, tem a minha permissão. Reconheço que estamos todos cansados. Retiro de aprofundamento é assim mesmo. Por isso, darei cinco minutinhos pra você poder pegar a sua Bíblia, o seu caderninho de anotações, e se retirar da sala de palestras. Podem ficar à vontade!"

Eu e meus amigos estávamos sentados do meio pro final, na sala. E foi automático: assim que ele liberou, todos, ainda sentados, olharam os arredores, pra ver quem levantaria.
Não haveria problema algum, pois ele havia liberado. 

Ninguém levantou.

Daí, a tonalidade da voz dele mudou.

"Muito bem, queridos jovens. Isso que acabei de fazer, foi uma espécia de teste, pra ver quem de fato está levando esse retiro a sério.
Agora sim vamos começar o nosso retiro de aprofundamento, propriamente dito. E nós vamos participar de uma celebração. Não aqui nessa sala, mas lá na Capela.
E não será uma celebração qualquer, mas a Celebração do Abraço do Pai. Peço que tirem uma folha de papel, escrevam nesse papel tudo o que atrapalha a caminhada de vocês, tudo o que tem feito vocês sofrerem, por terem entregado sua juventude nas mãos de Deus. Eu sei que não é fácil. Não será uma representação. Acredite no quê você escrever. Não escreva qualquer coisa, mas escreva o quê te machuca, o quê te magoa. Vou dar uns dez minutos para que o façam. Podem começar."

Eu jamais esquecerei os semblantes que vi do meu lado.
Toda a alegria, os sorrisos, as risadinhas, haviam cessado.
A maneira como o Frater colocou a proposta, já começou a mexer com a gente ali, na sala de palestras.

Algumas meninas começaram a chorar quando começaram a escrever.
Outras ficaram sérias, pensativas... Bem como nós, meninos...

Quando já havíamos escrito tudo, ele continuou:

"Agora, peguem esse papel, dobrem, e não mostrem pra ninguém. Guarde só pra você, ao menos até lá em cima. Eu vou me paramentar. Quero pedir à você que não enxergue a mim, lá na Capela. Estarei sentado numa cadeira. À minha frente, terá um travesseiro, uma almofada. Com o papel em mãos, você se ajoelhará, e receberá um abraço, mas não um abraço qualquer. Não serei eu, mas o próprio Deus. Acredite nisso. Hoje, tudo se renovará. E tudo isso que tem atrapalhado a sua caminhada, será queimado, logo após esse abraço. Podemos subir."

Quem conhece essa casa de retiros, que existe até hoje, sabe que ela fica num relevo, acima da sala de palestras. 

Saímos em fila, num silêncio total.
Eram rostos tristes, abatidos.
Toda aquela alegria e descontração haviam sumido por ora.

A equipe, super atenta, havia preparado bem o local.
Algumas velas ficaram responsáveis por iluminar o local. Umas três, no máximo.

Uma ficava perto do rapaz com o violão, o qual não lembro quem era.
Mas a voz... A moça que cantava... Dessa, jamais esquecerei.
A música era essa:



Nila... Do Ministério de Música Cristo Vive.
Que voz linda. 
Os jovens iam, em fila indiana, ficando diante do Frater, todo paramentado, recebendo aquele abraço, no qual uma oração era realizada.

Lembro que não entendi uma palavra sequer do quê ele rezou por mim, mas lembro dos versos que diziam "e agora sem forças, eu sou prisioneiro, do mais belo amor, do doce Jesus, do meu bem da Cruz... Jesus..."

Levantávamos, e íamos até um balde de metal, no qual depositávamos os papéis que cada um levava em suas mãos, e fogo era ateado em cada folhinha, com cada pecado, sofrimento e dores escritos e descritos.

Isso foi até alta madrugada.

Não foi necessário, como você já deve imaginar, chamar a atenção de ninguém por causa de uma eventual bagunça, tão comum até mesmo em retiros para pessoas que já estavam habituadas inclusive a servir nos grupos de oração da época.

Lembro que, um pouquinho antes de irmos dormir, eu, o Xande, o Douglas e a Vanessa nos reunimos num cantinho daquela casa de retiros, e prometemos à nós mesmos e um aos outros, que não saberíamos como, mas faríamos o possível para que os nossos jovens, daqui da Vila Menino Jesus, experimentassem tudo o quê havíamos experimentado naquela noite, naquele lugar.

Ali nasceu a espiritualidade da RCC, de uma vez, no meio do Juprobec, que mais tarde, depois de muitas vigílias, jejuns, terços, rosários, intercessões e orações, viria a se tornar o Grupo de Oração Jovem Cordeiro de Deus.
Ou, Grupo de Oração Cordeiro de Deus, como todos conhecíamos.

Nunca mais ouvi falar do Frater.
Sei que não foi bem aceito no meio dos outros seminaristas, e por isso foi convidado a se retirar do seminário.
O quê ouvi depois são especulações, de que ele havia abandonado o caminho do sacerdócio.

Se não me falhe a memória, ele havia escrito um livro, com o título "Seja feliz aprendendo a perdoar", o qual muitos de nós, naquele retiro, tivemos a oportunidade de comprar.

Já não sei mais onde o meu foi parar. Naquela época, emprestávamos livros, CD's, e coisas assim, já sabendo que nem sempre voltariam! Mas era bom demais!

Foram anos experimentando o quê Deus proporcionou através daquele retiro.
Quinze anos depois, lembro disso, e fico feliz pelas pessoas que participaram de minha vida, nessa linda história que durou o necessário para que muitos de nós, retirantes, pudéssemos buscar sermos pessoas melhores para as outras pessoas que conheceríamos!
Carol, Richard, Lucas, Beto, Nila... Algumas das pessoas que estavam à frente na época, e com as quais tivemos a alegria de vivermos tanta coisa juntos, anos depois, em retiros, congressos, rebanhões e afins!

Aos meus, Ricardo, Douglas e Vanessa, os que disseram sim à imensa jornada à qual Deus havia nos chamado, minha eterna gratidão também!

Conversando com o Danilo, um amigo que tenho, hoje de noite, na volta do trabalho, lembrávamos desse retiro. Ele também participou e experimentou esse abraço do Pai, o qual o Frater Dieickson,SCJ teve a missão de nos trazer.
E que tantos frutos rendeu.

A música com a qual termino esse post, também foi uma das escolhidas para o momento tão lindo e singelo, no qual Deus nos abraçou pelas mãos de um pecador. Pecador que havia dito sim para levá-Lo à tanta gente, numa maneira jovem de ser.
Vencedores no Amor de Deus, pela providência da Mãe.