segunda-feira, 8 de junho de 2015

Para a moça das flores!

Lembro como se fosse ontem.
Estava, a princípio, atrasado, mas não podia fazer mais nada.
Por mais que eu corresse, não conseguiria chegar a tempo para o meu compromisso.

"Bendito motorista lerdo!" - pensei comigo mesmo, maldizendo o trabalho do pobre coitado que com certeza dera o melhor de si por nós, passageiros, mas o quê pra mim não adiantou.

Era uma manhã, gelada de fim de maio.

Lembro do vento que soprava, frio, gelado, até.
Algo me chamou atenção naquela barraca, mais à frente.
Lindas flores estavam dispostas, à venda, naquela manhã.

Mas não foram bem as flores que me chamaram a atenção... E sim, a bela moça que com um lindo sorriso e atenção, atendia às pessoas que por ali passavam, e perguntavam sobre as flores que vendia!

Não sei bem o quê aconteceu comigo.
Na verdade, sabia, mas não queria admitir.

Passei em frente, olhei para as flores, usando isso como desculpa para ao menos cumprimentá-la.
Isso, já no dia seguinte.

Mas para a minha surpresa, àquele dia ela não estava lá.
Um senhor saiu de trás do balcão, um velho imigrante japonês, que me olhou com um ar de desdém, duvidando da minha real intenção em levar uma rosa ou um botão pra alguém que existisse em minha vida.

E ele estava certo.
Havia tempos que não tinha mais motivos pra mandar flores pra ninguém.
Triste realidade.
Sempre fui de comprar, nem que fossem botões, para presentear amigas, que fossem!
Mas nada... Havia tempos...

Em casa, já pela tarde, ficava divagando, imaginando se a moça das flores estaria lá no dia seguinte.
Mas espera aí... Amanhã, eu não teria nada pra fazer no centro da cidade, Logo não precisaria passar por lá.
Mas... E a moça?

Essa bendita necessidade de querer saber ao menos seu nome...
Acho que isso seria considerado um TOC, caso resolvesse me consultar num psicólogo, numa psicóloga. Quando alguém me chamava a atenção, não importasse em qual sentido, precisava saber o nome da pessoa em questão.

Tive um lampejo de um sorriso repentino!
Lembrei que havia um café, bem em frente à barraca das flores!

Pronto! Meus problemas acabaram!
Fui logo de manhã, escolhi uma mesa da qual pudesse enxergar lá fora, e... Bingo!!!
O ângulo era perfeito!
Só a vista ainda não agradava! A moça ainda não havia chegado...

Mas foi então que aconteceu!
Lá estava ela! As flores, e tudo mais!

Seria muita pretensão saber o nome dela. Afinal, por quê isso era importante?

Ah... Mas eu queria saber... Eu precisava saber!

Foi então que aquilo se tornou um hábito. Todas as manhãs, eu estava lá, à mesma mesa!
De vez um quando, um sem noção chegava mais cedo, e tomava posse do meu lugar cativo. O dono do café até dava risada, pois havia ele também se acostumado à minha presença, sempre na mesma cadeira, à mesma mesa!

- Bonita ela, né guri? 
- Quem? - Perguntei eu, como uma criança que é pêga em flagrante cometendo um delito, uma traquinagem!

- A moça das flores! Notei que você está aqui todos os dias, e sempre passa uma hora e pouquinho aí, olhando pra ela. Até esquece de pedir o café às vezes!

Dei uma risadinha sem graça!
Céus... Devia estar estampado na minha cara!
Parecia que agora havia ficado pior a situação!
Minha intenção era de ir lá, e falar com ela, puxar papo, comprar uma flor-de-maio (minha mãe AMA essa flor), vi que havia muitas lá, das mais variadas cores!

Mas aquilo não poderia se estender mais. Afinal, eu era um homem ou um rato?
E outra, eu não faria nada demais!

No dia seguinte, não fui ao café. Pensei que seria pior criar uma expectativa.
Quis is direto para a barraca das flores.

A menina já estava lá, acompanhada do sisudo japonês, que tinha cara de poucos amigos.
Eu sabia que ela já havia me visto diversas vezes também, lá dentro do café!
Devia pensar, aliás, que eu era um viciado em cafeína, pois estava lá praticamente todos os dias!

Só sei que lá estava eu, quase chegando. E cheguei.

Flores de todos os tipos e tamanhos ornamentavam aquele lugar!
Tomei um susto quando a moça saiu de trás do balcão.
Ela estava abaixada, podando uma margarida.


- Pois não, posso ajudá-lo?

A pergunta veio de repente. Eu não estava preparado pra aquilo.

E a reposta foi imediata:

- Qual o seu nome, por gentileza?

- Isso é violeta!

VIOLETA? Como assim, violeta?
O nome dela seria violeta?

Daí notei que ela estava apontando uma florzinha perto da minha mão. 
Achoe que ela havia entendido que eu perguntara o nome daquela flor, ou, me achando enxerido, deu uma resposta qualquer, pra não dizer o quê perguntei!

E eu: "Ah tá... Obrigado!"

Já ia saindo meio decepcionado dali.
Não obtive êxito na minha missão de descobrir seu nome.
Mas foi então que aconteceu!
Ela abriu aquele sorriso lindo e disse: "Imagina! Eu que agradeço!"

Aaaaaah... Ganhei o dia!

Sei que isso parece coisa de adolescente, mas era exatamente assim que eu me sentia àquele momento!

E nunca passou disso.

A moça, depois de um tempo, nunca mais apareceu.
Não sei pra onde foi.
Sei que o senhor japonês, pra quem ela trabalhava, havia voltado para a terra do sol nascente, pois um filho dele havia adoecido, e foi embora, cuidar dele.

A moça.tão linda e simpática, nunca mais a vi.

Penso comigo, que ela deveria ser alguém muito especial, e sabia que quem quer que fosse o escolhido pra estar ao lado dela, seria com certeza um felizardo!

Pessoas vem e vão na vida da gente.
Um dia, uma vendedora de flores me chamou a atenção, e num simples atendimento, no qual respondeu algo que nem havia perguntado, havia feito meu dia mais feliz!

Por onde andaria ela?
Não sei... Acho que mudou de cidade, pois não a vi mais em lugar algum...

Daria tudo para ser ao menos um amigo presente...
Mas tudo bem. A vida é assim.

Na esperança de que ela estivesse ouvindo a rádio local, pedi que o locutor lesse a mensagem que escrevi pra ela.



O quê você lê a seguir, é a tradução da música que tocou logo após a leitura da mensagem.

"Quando eu estou abatido, oh minha alma tão cansada
Quando problemas surgem e meu coração fica carregado
Então eu me acalmo e espero aqui em silêncio
Até você vir e sentar-se por algum tempo comigo;

Você me eleva para que eu possa ficar em pé sobre montanhas
Você me levanta para andar em mares tempestuosos
Eu sou forte quando estou em seus ombros
Você me levanta, mais do que eu posso ser!

Não há vida, não há vida sem este desejo
Cada batida do coração impaciente, tão imperfeita
Mas quando você chega, eu me surpreendo
Às vezes, eu acho ter vislumbrado a eternidade;

Você me eleva para que eu possa ficar em pé sobre montanhas
Você me levanta para andar em mares tempestuosos
Eu sou forte quando estou em seus ombros

Você me levanta, mais do que eu posso ser!"

Se ela ouviu? Não sei.
Mas a minha intenção, foi das melhores!


Um beijo pra você, moça das flores, onde quer que você esteja!